DISCURSO PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DE ALFERRAREDE EM 25/05/09

COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS DA FREGUESIA DE ALFERRAREDE
DISCURSO DO PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DE ALFERRAREDE
PEDRO MOREIRA EM 25 DE MAIO DE 2009
"ALFERRAREDE A INOVAR"
Tendo finalmente sido englobada nos limites urbanos da cidade de Abrantes em 18 de Agosto de 1970, Alferrarede é hoje uma pujante freguesia com cerca de 4200 habitantes, a segunda mais populosa do concelho e em franca expansão demográfica.
Renascida das cinzas do inevitável declínio associado ao desmantelamento, encerramento ou deslocalização das indústrias tradicionais – e fruto de uma sábia decisão do Executivo Municipal de então – uma nova Zona Industrial emergiu em Alferrarede, beneficiando da excelente localização e boas acessibilidades. Basta a este respeito recordar que a nossa terra é servida por uma auto-estrada, a A23, com ligação imediata às duas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, através da A1, logo a todo o Litoral, o que garante uma ligação fácil a todo o País. Ou a perspectiva de ligação à rede transeuropeia, adquirindo assim uma grande centralidade nacional. Ou ainda as ligações ferroviárias, que permitem um vasto leque de opções para todo o país e estrangeiro.
Servindo uma população que vai muito para além das suas fronteiras, Alferrarede desempenha hoje como no passado um importante papel dinamizador no desenvolvimento industrial e na estrutura do emprego da região. Ultrapassado que foi o declínio, que se traduziu igualmente num decréscimo populacional, Alferrarede conheceu nos últimos anos uma nova fase de crescimento, resultante do aparecimento de novas empresas.
O actual Parque Industrial de Abrantes veio complementar a já existente Zona Industrial de Alferrarede e tem vindo a estender-se para a zona sul, confinando aí com o Tecnopolo do Vale do Tejo. São na sua maioria pequenas e médias empresas, com uma razoável diversidade de actividades, com destaque para a construção civil e afins, a prestação de serviços, a indústria agro-alimentar, florestal e afins e o “cluster” das indústrias automóvel, peças, metalomecânica e metalúrgica. São cada vez mais unidades de tecnologia de ponta, com elevados índices de produtividade e qualidade.
Os dados mais actualizados dizem-nos que só na Zona Norte do Parque Industrial de Abrantes há vinte empresas instaladas, três empresas em trabalhos de construção, quatro em fase de projecto de arquitectura e especialidades, uma empresa com terreno escriturado e três com terreno em processo de reversão.
Por tudo isto – e sem menosprezo das áreas industriais localizadas noutras freguesias – Alferrarede assume-se claramente neste início do século XXI como o pulmão industrial e empresarial do concelho de Abrantes e aspira a ser como já foi o pólo dinamizador da economia da região.
Sendo a aposta no conhecimento, inovação e tecnologia um dos factores de dinamização fundamental identificados no Plano Estratégico da Cidade de Abrantes, não posso deixar de fazer uma referência à instalação na Freguesia de Alferrarede do Tecnopolo do Vale do Tejo, verdadeiro Parque Tecnológico que oferece às empresas e aos intervenientes económicos e sociais da região um conjunto de infra-estruturas materiais e imateriais de acolhimento e de serviços de alta qualidade e inovação, nomeadamente de apoio ao desenvolvimento empresarial e tecnológico das empresas.
É dinamizado e gerido pelo “Tagus Valley” – Associação para a promoção e desenvolvimento do Tecnopolo do Vale do Tejo – que norteia a sua actuação por um conjunto de objectivos, de que me permito destacar os seguintes por me parecerem absolutamente determinantes para a afirmação do Tecnopolo como um autêntico Parque de Ciência e Tecnologia: prestar serviços de inovação e desenvolvimento tecnológico; integrar redes de ciência, tecnologia e inovação; dinamizar as relações entre entidades e empresas na área do conhecimento; rentabilizar economicamente o conhecimento.
Herdeiro da nossa melhor tradição empresarial e localizado nos antigos pavilhões da Quimigal – verdadeira jóia da Coroa do passado glorioso de Alferrarede e igualmente símbolo do seu declínio, mas que uma visão quase profética fez renascer do progressivo abandono a que haviam sido votados – o Tecnopolo do Vale do Tejo é hoje uma marca indiscutível de modernidade na paisagem cada vez mais urbana da nossa freguesia.
Mas outras há que não quero deixar de referir. Veja-se, por exemplo, o novo Centro de Distribuição Postal; ou a nova extensão do Centro de Saúde de Abrantes em Alferrarede; ou o Arquivo Municipal “Eduardo Campos”; ou a proliferação de grandes superfícies comerciais, ainda que acarretem o risco de declínio do comércio tradicional; ou as modernas instalações do Centro de Recuperação e Integração de Abrantes, o C.R.I.A. ou ainda um conjunto de novas urbanizações – umas já habitadas, outras ainda em fase de arranque de construção – que se arriscam a transformar por completo o cenário que a todos era familiar e a contribuir decisivamente para a fixação em Alferrarede de gente nova e mão-de-obra altamente qualificada.
Porém, a par destes e doutros inequívocos sinais de modernidade, deparamo-nos com alguns embaraçosos sinais contraditórios. Senão, vejamos: a decisão da C.P. de suspender a paragem dos comboios Intercidades , seguida do encerramento do serviço de aquisição de bilhetes, num processo que receio conduza à total desactivação da estação ferroviária de Alferrarede, freguesia urbana e pólo de concentração do saber e inovação; ou o encerramento e consequente deslocalização para outra freguesia da estação dos Correios de Alferrarede, equipamento que existe na nossa terra desde 15 de Dezembro de 1900, mesmo que o nome se tenha mantido. Não obstante o executivo a que tenho a honra de presidir tudo – e sublinho tudo – ter feito no sentido de impedir que estes sinais de retrocesso se concretizassem.
Também não quero, nem posso escamotear o muito que há ainda para fazer. Lembro, sem querer ser exaustivo, a escandalosa situação de, em pleno século XXI, ainda haver ruas no centro histórico da freguesia – e, por conseguinte, dentro do perímetro urbano da cidade – em terra batida. Saúdo a este propósito a decisão da Câmara Municipal de Abrantes, aprovada igualmente em Assembleia Municipal, de estabelecer com a Junta de Freguesia de Alferrarede um protocolo de delegação de competências que permitirá muito em breve o asfaltamento das seguintes artérias: Rua da Ferrugenta, Rua J.M. Silva Casaca, Travessa do Rio das Hortas, Rua do Porto do Taínho, Estrada do Gaio, Travessa da Senhora da Ribeira, Beco da Travessa do Rio das Hortas e Ruas do Bairro da UFA, estas últimas para o reasfaltamento que há muito se impunha. Saúdo também a intenção do executivo municipal, na pessoa do seu Presidente, Dr. Nelson de Carvalho, de estabelecer ainda este ano idêntico protocolo que possibilitará a pavimentação de um conjunto de arruamentos em Alferrarede Velha e Barca do Pego. Lembro a necessidade de se proceder ao alargamento do cemitério de Casais de Revelhos e dotar de saneamento básico algumas ruas do centro de Alferrarede e a Barca do Pego. Lembro a imperiosa necessidade da construção do novo Centro Escolar de Alferrarede, para onde convergirão todas as crianças do ensino pré-escolar e do 1º ciclo do Ensino Básico da freguesia, que terão ao seu dispor modernas instalações e recursos adaptados às novas exigências educativas. Lembro, por fim, a urgência de se concluir o processo de requalificação da Avenida António Farinha Pereira, verdadeira espinha dorsal do tráfego concelhio, registando com satisfação que o respectivo financiamento está já contemplado no QREN.
Neste início de século, Alferrarede não pode deixar de se confrontar com alguns desafios. Parece hoje indubitável que se irá acentuar uma tendência que se vem verificando nas duas últimas décadas: a da deslocação do centro nevrálgico de Alferrarede do largo do cinema, já encerrado, para a parte mais alta. O actual centro de Alferrarede deixará de ter vitalidade própria ou ganhará nova vitalidade em virtude de novas funções sociais que compensem as que eventualmente vier a perder? A deslocação das empresas tenderá a deixar um vazio: menos pessoas, menos movimento, menos comércio…Será absolutamente necessário encontrar novas funções sociais que contrariem o envelhecimento ou mesmo a desertificação e morte da ainda zona nobre de Alferrarede.
A este respeito, assume particular importância a decisão de integração das futuras instalações da E.S.T.A. – Escola Superior de Tecnologia de Abrantes – no Tecnopolo do Vale do Tejo, em Alferrarede. Para o efeito, irá proceder-se à requalificação de determinadas unidades fabris desactivadas (antigas instalações da CUF) existentes no local, dando uma nova função a estes espaços e uma imagem capaz de estabelecer um conjunto integrado e homogéneo, num investimento previsto que rondará os nove milhões e meio de euros.
Para além da possibilidade de expansão futura, a E.S.T.A. ficará lado a lado com o tecido empresarial e instituições do saber, conhecimento, tecnologia e inovação, contribuindo para o seu próprio processo de modernização e para uma entrada mais avalizada dos novos licenciados no mercado de trabalho, ao mesmo tempo que serão dinamizadas as relações entre empresas, centros de investigação, ensino, formação e entidades públicas.
A perspectiva de a muito breve trecho Alferrarede passar a ser “invadida” por largas centenas de estudantes, professores e pessoal auxiliar e administrativo não deixará de provocar – estou certo – uma autêntica revolução no mercado local de arrendamento, constituindo um incontornável estímulo à recuperação do seu já visivelmente degradado parque habitacional, a par de acarretar simultaneamente um rápido florescimento de todo o tipo de estabelecimentos comerciais e de restauração, muitos dos quais se irão inevitavelmente instalar no centro histórico tradicional.
Se quisermos não ceder à tentação sempre presente de, quais Velhos do Restelo, permanecermos no cais do imobilismo a contemplar os tempos gloriosos de um apogeu industrial e comercial que já não se pode repetir; se estivermos dispostos a apagar as nostalgias do passado…não teremos mais remédio senão reconhecer com orgulho que a nossa terra está mais bonita.
Apesar do muito que falta ainda fazer, não tenho dúvidas em afirmar que o futuro se apresenta risonho.
Importa, mais do que nunca, pôr de lado bairrismos exacerbados que no passado mais remoto ou mais recente apenas conduziram a guerrilhas institucionais que em nada beneficiaram o progresso da nossa freguesia.
Precisamos decidir em todo o momento o que se pretende para Alferrarede, não só pensando Alferrarede em si mesma, mas sobretudo pensando o que deve ser Alferrarede no contexto da cidade complexa e polinuclear que é Abrantes.
Esta sessão pública a que chamámos “Alferrarede a Inovar” pretende ser um contributo para essa reflexão, ao mesmo tempo que se assume como a concretização visível da capacidade que esta terra tem para inovar e, assim, se ir renovando.
É com particular satisfação que registo que pela primeira vez todas as colectividades da freguesia estão juntas a trabalhar por um objectivo comum e só assim foi possível este atrevimento colectivo de organizar uma semana inteira de festa, a “Alferrarede em Festa”, que pretende tão somente envolver todas as pessoas nas comemorações das Bodas de Ouro da Freguesia de Alferrarede.
Celebrar os 50 anos da criação da Freguesia de Alferrarede é, certamente para todos nós, um privilégio e um desafio.
Saibamos todos – autarcas, empresários, educadores, dirigentes associativos, cidadãos empenhados e socialmente comprometidos – cada um na exacta medida das suas capacidades e assumindo por inteiro as suas responsabilidades, salvaguardadas sempre as salutares diferenças de opinião e perspectiva, saibamos todos, dizia, congregar esforços na prossecução do bem comum. Só assim seremos dignos da história que orgulhosamente carregamos e saberemos fazer de Alferrarede, hoje como há cinquenta anos atrás, uma terra de oportunidades.

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